No Livro dos Espíritos, capítulo VI – “Vida Espírita”, o primeiro livro da Codificação de Allan Kardec, vários Espíritos respondem à variadas perguntas do codificador. Em algumas dessas respostas, é colocado que antes de reencarnar, o Espírito escolhe as provas que quer suportar por meio do livre-arbítrio, um direito que Deus nos agraciou como Seus filhos. Portanto, o Espírito escolhe também a família a qual vai pertencer na encarnação.
No Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo IV – “Ninguém pode ver o Reino de Deus Se Não Nascer de Novo”, é ensinado que “família” é um termo para ser utilizado por grupos no espaço, unidos pela afeição, simpatia ou semelhanças de inclinações, que buscam estar juntos por serem parecidos.
Já no capítulo XIV – “Honra a Teu Pai e a Tua Mãe”, é esclarecido que há dois tipos de famílias.
Também é posto que a união e afeição existente entre parentes são o indício de uma simpatia de vida ou vidas anteriores que os aproximou. Sobre a antipatia – separação ou distanciamento - que alguns parentes sentem sobre outros na mesma família, é posto que “Deus permite essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos nas famílias, com o duplo objetivo de servir de provas para uns e de meio de evolução para outros. Os maus se aperfeiçoam pouco a pouco, em contato com os bons e com os cuidados que deles recebem. Seu caráter se abranda, seus costumes se apuram, as antipatias desaparecem. É assim que se estabelece a fusão entre as diferentes categorias de Espíritos, como se faz na Terra entre as raças e os povos”.
O casamento, no Livros do Espíritos capítulo IV – “III Lei de Reprodução”, é designado pelos Espíritos como “um progresso natural na marcha da Humanidade”.
Já sobre a indissolubilidade absoluta do casamento, ou seja, que não é permitido a separação ou o divórcio na visão espírita, é respondido à Allan Kardec que essa “é uma lei humana muito contrária à lei natural. Mas os homens podem mudar suas leis: só as da Natureza que são imutáveis”.
Com essa colocação, fica claro que não há crime moral na visão espírita por uma separação ou divórcio.
No Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XXII – “Não Separeis O Que Deus Juntou”, é citado que a única lei divina que deve ser perpetuada no casamento é a lei do amor, como em todas as uniões de seres vivos.
O intuito é que os Espíritos se unam, não apenas por laços da carne, mas também por laços da alma. Dessa forma, a afeição mútua dos cônjuges se estende aos filhos, para que ambos, juntos, ao invés de apenas um, ame-os e faça-os progredir moralmente.
O que não raro acontece é a união de dois seres que buscam a satisfação do orgulho, da vaidade, da cupidez, de interesses materiais acima dos interesses do coração e do Espírito, que culminam em relações infelizes e perpetuam a separação amorosa entre si. O divórcio ocorrendo pouco a pouco até que os parceiros percebam. No entanto, nem sempre a infelicidade do casamento é porque a intenção dos dois seres foi de escolha material e, por isso, ocorreu a separação. Como já foi dito anteriormente, a escolha da família é feita antes da reencarnação. Ou seja, existe um proposito para qualquer união e desunião.
Já a traição, ou adultério como chamado no Evangelho Segundo o Espiritismo, é apenas uma consequência da transgressão da lei divina de um casamento, a do amor. Se houve traição, não havia afeto recíproco, traindo a lei de amor proposta por Jesus em nossas relações. Por isso, ocorre a separação, o divórcio e os sentimentos negativos que a traição proporciona. Não bastando as dificuldades da separação entre si.
Em entrevista ao programa Pinga-Fogo da extinta TV Tupi de 1972, Chico Xavier fala sobre o divórcio.
Chico defende que “o divórcio é uma medida humana, uma medida legitima” e continua “[...] muitos talvez afirmem, ‘mas, e a dívida de outras reencarnações?’, muito bem, mas os nossos bancos fornecem moratórias, fornecem reformas, será que o banco da Providência Divina está em penúria tal, que não nos possa dar tempo, para depois resgatarmos as nossas dívidas com determinados companheiros ou companheiras, para que nós não venhamos muitas vezes a cairmos em delinquência? Para salvaguardar os nossos interesses, a nossa integridade mental mesmo, o divórcio é uma medida humana [....]”.
É possível concluir então que nós planejamos parte de nossas provas e expiações antes de reencarnar, até a escolha de nossos parceiros ou parceiras. No entanto, Deus nos deixa o livre-arbítrio para decidir como será essa jornada para ambos. A lei dos homens permite o divórcio e a misericórdia e piedade divina nos permitem reencontrar tais parceiros ou parceiras em uma ou mais futuras reencarnações para que evoluamos juntos, no momento propício para ambos.
No Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo IV – “Ninguém Pode Ver o Reino de Deus Se Não Nascer de Novo”, há um trecho que finaliza bem o tema.
“Com a reencarnação, e o progresso que lhe é consequente, todos os que se amaram se reencontram na Terra e no espaço, e juntos rumam para Deus. Se há os que fracassaram no caminho, retardam a sua evolução e sua felicidade, mas nem toda esperança está perdida. Ajudados, encorajados e sustentados por aqueles que os amam, sairão, um dia, do atoleiro em que caíram. Com a reencarnação, enfim, há perpétua solidariedade entre os encarnados e os desencarnados, do que resulta o estreitamento dos laços da afeição”.
Isso condiz com a fala de Chico Xavier, que podemos recorrer ao divórcio quando não há mais laços que mantenham a união em estabilidade, para depois, em uma próxima oportunidade, resgatar essa união, mais preparados, mais evoluídos, mais instruídos. Temos, ainda mais, na infinidade de vidas que temos pela frente, uma infinita fonte de oportunidades para que a lei do amor prospere não apenas com o parceiro ou a parceira dos quais nos divorciamos, mas em todas as relações afetivas que estabelecemos em todas as vidas.